quarta-feira, 5 de março de 2014

Posted by T. T. Albuquerque | File under : , , ,
Quarto capítulo desse projeto que fala sobre possessão, demônios sumérios e pedreiros brasileiros.
Heim?
Recebi boas críticas sobre esse capítulo em alguns sites, inclusive uma crítica que o comparava a obras de autores como Poe e King... Muito gentil, mas pouco verdadeiro.
Relevem o latim ruim.
Peço novamente, comentem.
Obrigado.



Santarém, Pará, 30 de março de 2007.

Dando seguimento aos nossos artigos, apresentaremos hoje aos caros leitores, o relato do senhor Paulo Henrique Noronha, 76 anos, engenheiro civil e morador da cidade de Magé no Estado do Rio de Janeiro.

Ao contrário do que ocorreu anteriormente, o relato do senhor Noronha não ocorre em uma data distante e nem se trata da descrição de uma pessoa falecida quanto aos eventos em que se viu em frente ao desconhecido. O texto na verdade é um depoimento pessoal quanto a eventos decorridos até o momento. Uma série de fatos de caráter sobrenatural e fantástico que permeiam sua vida desde a década de noventa, quando o senhor Noronha residiu e trabalhou no Iraque em obras do regime Hussein. Publicaremos esse relato, assim como, fotos produzidas pelo senhor Noronha e o nosso já tradicional texto acerca da criatura que é citada no relato.

Magé, Rio de Janeiro 22 de março de 2007.
Olá meu caro C. C. de Carvalho, um dia lendo alguns textos na internet, me deparei com suas matérias e fui tomado por assombro ao notar que os relatos se assemelham muito a minha própria vida. Sou engenheiro, nascido em Manaus em 12 de janeiro de 1931 e por 27 anos exerci minha profissão em vários países. Vivi no Japão, Angola, Líbia, Inglaterra e para meu pesar, Iraque. Foi nesse ultimo país em que minha vida foi completamente envolta em horror e solidão.

Em fevereiro de 1995 fui enviado pela empresa em que trabalhava para Bagdá, a fim de supervisionar algumas obras que seriam realizadas nas áreas do entorno da capital. Durante os primeiros meses de trabalho, não houve problemas e acabei por ter tempo para me debruçar sobre a história da mesopotâmia. A história e a arqueologia sempre foram uma paixão. Era-me fácil conseguir obras das várias civilizações que ali existiram tanto por meios lícitos como ilícitos. E esses meus estudos e curiosidade acabaram por ser minha ruína.

Em setembro de 1995, a escavação de um canal, acabou por revelar uma estrutura enterrada profundamente na terra. Foi uma grande alegria para mim. Mas um grande transtorno para a empresa, já que isso decretaria o fim das obras. Após uma reunião, foi decidido que a estrutura seria novamente enterrada sem que a sua descoberta fosse comunicada as autoridades e alguns ajustes foram feitos para que o projeto continuasse. Usando de minha influencia na empresa, consegui que o aterramento fosse adiado por alguns dias para que eu pudesse adentrar na estrutura a fim de recolher qualquer peça que pudesse ali existir.

Juntamente com uma pequena equipe de três homens, adentrei no local. Um templo do período pré-dinástico, estranhamente conservado e ao que parecia saqueado anteriormente, pois haviam escritos em grego, aramaico e latim entalhados em várias partes. Isso me consternou, já que era, a meu ver, obvia a inexistência de qualquer peça intacta e de valor.

Mas para minha surpresa e futura desgraça, ao entrar no salão central da estrutura, a equipe e eu nos deparamos com algo fantástico. A estátua gigantesca de uma deidade que parecia proteger uma espada encravada em um altar. No mesmo instante fui invadido de uma grande alegria, pois a peça era magnífica, de um esmero e arte que eu jamais havia visto.

Meus acompanhantes se mostraram reticentes perante a descoberta, pois era estranho que saqueadores houvessem deixado algo tão belo para trás. Ordenei aos homens que fotos fossem tiradas de todo o templo, eu mesmo retirei algumas fotos e ao terminar todo o rolo de filme fotográfico, me encarreguei de recolher a espada. Ao tocar seu cabo o mal pela primeira de muitas vezes, falou comigo. Vozes pareceram invadir minha mente, cada uma gritando em uma língua diferente, muitas delas, tenho certeza, há muito perdidas. Mas lembro-me bem o que uma delas me disse em um latim estranho, tudo parece ter sido gravado à ferro e fogo em minha memória: Maldito! És um escudo! Não posso dominar-te, mas te roubarei tudo o que amas!.

Cheio de horror gritei histericamente e a equipe correu em meu socorro. Arremessei a espada ao chão e para a desgraça de todos, um dos homens a recolheu. No mesmo instante, as feições do jovem, um sunita, se transfiguraram em algo horrendo. A pele rasgou-se como se retalhada por inúmeras laminas e com uma voz aterrorizante, que na verdade parecia ser a união de várias, me ameaçou novamente em latim: Maldito! Não escaparás, te roubarei todos os que te são quistos!

E com a espada cortou a própria garganta e puxou a língua para fora pelo corte enquanto sorria diabolicamente. Como animais apavorados, tentamos fugir daquela manifestação do horror, mas foi inútil, a coisa, pois aquilo não era mais humano, se moveu de forma antinatural e esquartejou os outros dois homens que restaram da equipe. Para minha vergonha, não tentei os ajudar e continuei minha fuga rumo à saída. Já com os pés fora do templo, a coisa me alcançou e rindo derrubou-me ao chão. Pensei que o meu fim havia chegado, mas a coisa apenas tomou minha mão e nela colocou a espada, para então dar meia volta e sumir no interior do templo.

Larguei a arma e corri em direção do canteiro de obras para pedir ajuda e após alguns minutos retornei com uma grande equipe de homens, alguns deles armados, e para nosso espanto, a entrada do templo havia sumido, como se tragada pelo deserto. Tentamos a reencontrar, mas foi impossível. Temendo que o caso fosse a público, fui enviado de volta ao Brasil com o diagnóstico de transtorno pós-traumático e a equipe de trabalho substituída pela empresa.

Durante meses, tive pesadelos, mas nada ocorreu de antinatural e tentei seguir a vida com minha família.

Mas não durou muito a minha paz.

Certo dia, ao voltar do trabalho, encontrei a casa às escuras e em total silêncio. Estranhei o fato e ao entrar, perdi o que mais amava. As paredes estavam todas cobertas de escritos, todos feitos com sangue. Cheio de temor corri pela casa chamando minha esposa e filha e acabei por as encontrar na cozinha. Lá, o puro horror reinava.

Minha esposa estava completamente esquartejada, seus restos espalhados por todo o cômodo e minha filha completamente nua, coberta de sangue e em suas mãos, a espada. Sorrindo, com a mesma voz que eu ouvi naquele distante templo no Iraque, me disse em um português perfeito: É bom lhe ver outra vez, seu maldito... Como te disse... Tomar-te-ei tudo que amas!

E colocando a ponta da espada em sua vagina, minha filha, dominada pelo mal, em um movimento selvagem e veloz, de baixo para cima, partiu seu corpo ao meio. A cena toda foi demais para minha razão e então desmaiei.

Quando retomei os sentidos, estava em um leito hospitalar. Foi-me dito que a polícia invadiu a casa após relatos dos vizinhos de barulhos estranhos e gritos. Determinou-se que minha filha tivera um ataque psicótico e após matar a mãe, se suicidou ao ser descoberta por mim. Passei meses no hospital, na ala psiquiátrica, sendo tratado e quando obtive alta e retornei para casa, encontrei fincada no centro da sala a maldita espada. E então percebi que nunca mais teria paz.

Pesquisei a fundo durante anos tudo o que pude encontrar quanto ao templo e a espada e por fim descobri que a estrutura foi erguida para manter a arma oculta e longe dos homens, pois ela foi forjada por Asa’el, o anjo caído, que ensinou as filhas dos homens como produzir espadas e facas em troca do calor de seus corpos. E que como punição foi preso na espada e através dela tem trazido a morte e desgraça ao mundo, possuindo o portador da mesma e o usando como seu instrumento. Mas há indivíduos que não são sujeitos a sua vontade, assim como eu, e por ter um ódio todo especial contra eles, o demônio tenta desde aquele maldito dia no Iraque me destruir.

Apesar de saber que meu relato é completamente fantástico e que muitos me terão por louco devido aos meses na ala psiquiátrica, venho aqui pedir ajuda. Sou um homem idoso, a morte em breve me levará, coisa que espero com ansiedade, no entanto, temo o dia em que a espada novamente estiver livre para espalhar o mal pelo mundo. Tenho a mantido guardada sobre constante vigilância e para que meu trabalho e vingança, pois penso que impedir que a vontade de Asa’el se faça seja uma forma de me vingar de seus atos hediondos, não sejam em vão, peço que todos aqueles que lerem o meu relato espalhem a história e a foto da arma, para assim, caso por má sorte tenham em sua presença a prisão de Asa’el não a toquem e fujam de um destino tão horrível ou pior que o meu.

Sinceramente,
Paulo Henrique Noronha.

Asa’el.

Asa’el ou Azazel, segundo os relatos contidos no Livro de Enoch, seria o líder dos Guardiões, séquito de anjos que ensinou aos homens os segredos divinos da metalurgia bélica e de cosméticos que seriam capazes de seduzir os anjos. Julgado por seus crimes foi jogado por Rafael em um abismo de escuridão cheio de rochas cortantes e pontiagudas até o Dia do Julgamento, quando então será destruído no Lago de Fogo. Ainda segundo o Livro de Enoch, graças aos seus atos os anjos e as filhas dos homens tiveram filhos, os Gigantes, que espalharam o pecado e para limpar o mundo, Deus o destruiu com um grande dilúvio.
O texto a seguir é a passagem que ilustra o crime de Asa’el:

E Azazel ensinou ao povo a arte de produzir espadas, facas, escudos e armaduras; e para suas escolhidas mostrou braceletes, decorações, como escurecer os olhos com antimônio, ornamentações, o desenhar das sobrancelhas, todos os tipos de pedras preciosas, todas as tinturas e alquimia. – 1 Enoch 8:1

Foto: Painel Mesopotâmico.
Na foto se vê um painel de origem mesopotâmica, onde figuras com corpos de touros e cabeças humanas cercam uma imagem que foi ao que parece propositalmente destruída. Abaixo, escritos em grego e latim, foram entalhados na rocha, sobre o texto cuneiforme original. A legenda da foto diz: “E o traidor foi preso e jogado no nada até o fim dos dias. Temei homem cujo espírito é como porta aberta para a influencia do gênio mau.”.

Foto: A espada.

Na foto, uma espada semelhante a um gládio em tamanho, mas de uma técnica e estética impressionantes, está lacrada em um mostruário de metal e vidro. No fundo da foto, na esquerda, uma figura indistinta, quase um borrão, de um homem de feições horrendas e completamente coberto por facas, espadas e as mais variadas armas brancas como se fosse uma armadura, todas elas encravadas na carne, olha em direção ao fotografo, cheio de ódio. A legenda da foto diz: A prisão de Asa’el.

Novamente, como já de costume, nos colocamos à disposição de nossos leitores para enviar todo o material que temos em mãos, por motivo de espaço o mesmo não pôde ser impresso na totalidade em nossas páginas, para sua apreciação. E esse jornalista gostaria de agradecer profundamente ao senhor Noronha, pela confiança e palavras gentis dirigidas ao nosso trabalho editorial.


C. C. de Carvalho - Jornalista

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