Este é o terceiro capítulo desse projeto, foi o com pior aceitação nos sites onde os postei. Acho que tal fato ocorreu, por haverem soldados nazistas como narradores. Ou o conto é ruim mesmo. Vá se saber? Por isso peço que as pessoas que lerem, comentem e me apontem suas impressões. Obrigado!
Nazistas na selva.
Nazistas na selva.
Santarém, Pará, 23 de março
de 2007.
Novamente, após a publicação
dos documentos enviados pelo senhor Carlos Prado Góes, recebemos um grande
número de e-mails, em sua grande maioria, nos apoiando e parabenizando quanto
ao trabalho jornalístico aqui apresentado. Para nossa surpresa uma quantidade
realmente notável de textos semelhantes aos previamente publicados nos chegou à
redação, no entanto, a maior parte mostrou ser mera falsificação ou brincadeira
de mau gosto, mas ainda assim, alguns atraíram a nossa atenção devido ao seu
caráter, a nosso ver, de realidade e veracidade.
Tendo em vista a boa
aceitação dos textos apresentados, passaremos a publicar semanalmente o
material que temos em mãos para que o leitor tire suas próprias conclusões
quanto o caráter do mesmo.
Nessa semana, publicaremos
documentos enviados pelo senhor Klaus Rosenberg, 72 anos, morador de Blumenau.
Segundo o senhor Rosenberg, esses documentos estiveram sob a guarda de seu pai,
o senhor Hans Rosenberg, ex-oficial nazista, que durante a Segunda Grande
Guerra, desertou do exército alemão e se exilou no Brasil. Ao que consta, os
textos pertenciam a uma equipe de cientistas do Reich, que percorreu a bacia
amazônica coletando dados científicos durante o ano de 1936. A mesma equipe foi
dada como desaparecida dois meses depois de sua saída de Manaus, capital do
Amazonas. Os documentos foram encontrados pela marinha brasileira em um barco a
deriva no Delta do Amazonas e entregues ao consulado alemão. Como tais
documentos chegaram ao poder do pai do senhor Rosenberg é algo que nem o próprio
nos soube informar. Os mesmos foram guardados pela família durante 73 anos e
pela primeira vez serão publicados. Tratam de uma narrativa muito semelhante às
previamente apresentadas em nosso jornal, um diário e uma série de anotações
soltas. Todos os textos foram traduzidos do alemão tentando conservar o máximo
possível da estrutura original, exceto as anotações, que estão em português e
ao que parece, foram redigidas por um caboclo contratado como guia.
Publicaremos primeiramente a narrativa do capitão Clóvis Kremer, este, ao que
tudo indica, foi o ultimo membro da equipe a sucumbir, em seguida o diário do
soldado Gunter, logo após, as anotações do caboclo Nazário e por fim, um
pequeno texto descrevendo o ser que supostamente foi encontrado pela equipe.
Não sinto minhas pernas. A criatura as partiu ao me arremessar
contra as árvores e se Schimidt não houvesse me trazido ao barco, eu já estaria
morto assim como o guia, seus restos foram deixados próximos ao barco pela
fera. Schimidt e Nordberg ainda estão na floresta tentando a destruir. Tolos.
Todos morrerão aqui e a culpa é inteiramente minha. Fui incompetente e
arrogante ao pensar que poderíamos prender a besta.
Deixarei o relato do ocorrido antes que eu sucumba. Espero que ele
seja encontrado e possa ser de ajuda para a pesquisa cientifica e o Grande
Reich.
Desembarcamos no Brasil, no Porto de Santos, assim como planejado,
e de lá fomos via ferroviária até o norte do país, com destino a cidade de
Manaus. Chegando ao destino, qual não foi o nosso espanto ao nos depararmos com
uma cidade rica, que possuía edifícios magníficos, graças à indústria da
borracha.
Contratamos um guia local, Nazário, um homem baixo, servil,
trabalhador e que entendia o alemão, então nos lançamos no interior da floresta
levando nosso equipamento.
A maior parte da viagem foi feita de barco, mas por vezes tivemos
que cruzar áreas de terra seca carregando o nosso transporte, atividade muito
desgastante para toda a equipe.
Durante um mês e meio coletamos amostras vegetais, minerais e
animais, sem nenhum problema maior do que os insetos e o clima, até que
entramos em um vale cuja única entrada e saída, consistiam em um pequeno braço
de rio que o nosso guia denominou de “igarapé”.
Encontramos uma variedade de insetos e mamíferos não catalogados.
Acampamos por dois dias no local sem problemas, mas na terceira noite, um tipo
de símio, do tamanho de um gorila, invadiu o acampamento nos atacando. Dois dos
homens foram feridos por ele antes que nós o abatêssemos a tiros.
Ao verificar a criatura, pudemos notar que se tratava de uma
espécie animal, completamente nova e ficamos eufóricos com a descoberta. Era
uma criatura impar, de longos membros superiores, corpo robusto, membros
inferiores curtos, pelos grossos que cobriam o corpo completamente e um odor
muito acre. O mais impressionante era a inexistência de crânio ou pescoço.
Todos os órgãos sensoriais ficavam amalgamados ao troco. Olhos, boca, fossas
nasais e auditivas, estruturados de uma forma inédita para os padrões conhecidos
pela ciência moderna. Nosso guia ficou muito impressionado com o animal e o
chamou de “Mapinguari”. O medo era nítido em sua expressão e ele passou a pedir
insistentemente que nos retirássemos do local imediatamente.
Durante toda a manhã do dia seguinte, não tivemos problemas e
ficamos a estudar o animal, no começo da tarde, um chamado gutural passou a ser
ouvido e o guia sugeriu que era emitido por outro espécime. Decidi que
deviríamos o capturar para estudos e a equipe preparou armadilhas para tanto.
Ao cair da noite, nossa destruição se abateu sobre nós. Novamente
o acampamento foi invadido, mas o espécime dessa vez se mostrou muito mais
formidável, monstruosamente gigantesco e feroz, devia medir mais de três metros
e apesar de nossos disparos, a criatura não parou de nos atacar. Em sua
primeira investida, dois dos homens foram abatidos com facilidade. A criatura,
ao encontrar o cadáver da outra, que havíamos abatido, tomou-a nos braços e a
levou floresta adentro. Duas horas após seu primeiro ataque, ela retornou com
sanha assassina, eliminando mais quatro homens com requintes de crueldade.
Nosso guia nos abandonou fugindo em direção do barco, mas foi seguido pelo
mostro e pouco tempo depois ouvimos seus gritos desesperados.
Passada cerca de meia hora, a besta retornou para sua terceira
investida eliminando mais dois homens e ferindo mortalmente um terceiro.
Ordenei aos homens restantes que usassem os explosivos que tínhamos a nossa
disposição, mas de nada adiantaram, após a primeira detonação, a fera se
refugiou na mata. No fim de mais duas horas, em sua quarta investida, a
criatura capturou um dos homens e o arrastou mata adentro. Durante quinze
minutos ouvimos os gritos de desespero do soldado e então tivemos certeza que o
ser era possuidor de alguma espécie rudimentar de raciocínio.
Em sua quinta investida, mais um homem foi abatido e eu,
arremessado contra uma árvore, partindo ambas as pernas em fraturas expostas.
Os dois últimos homens agora estão lutando contra a besta.
Acabo de ouvir seus gritos entre as explosões.
Nordberg se aproxima correndo para o barco, atrás dele a criatura.
Vamos morrer.
Deus salve nossas almas.
O diário de Gunter:
26 de agosto de 1934 – Chegamos ao Brasil.
27 de agosto de 1934 – Tomamos um trem em direção ao norte. O
calor é horrível.
29 de agosto de 1934 – Deixamos o trem e tomamos um caminhão rumo à
cidade de Manaus. O calor aumenta a cada dia que nos aproximamos mais do norte.
04 de setembro de 1934 – Chegamos à cidade de Manaus. Sua
arquitetura é impressionante. O calor é insuportável.
06 de setembro de 1934 – O comandante contratou um guia local. O
homem fede. Sub-raça servil.
08 de setembro de 1934 – Iniciamos nossa viagem rumo ao interior
da floresta amazônica. O calor é horrendo.
11 de setembro de 1934 – A floresta é fantástica. As árvores são
incrivelmente altas. E os animais abundantes. O guia se mostrou muito útil.
15 de setembro de 1934 – O calor e os insetos são terríveis. Os
homens estão exauridos.
21 de setembro de 1934 – Tivemos que abandonar o rio e transpor
uma longa distancia a pé. Carregamos o barco durante toda a travessia. O calor e
os insetos estão a me matar.
23 de setembro de 1934 – Chegamos a um vale no meio da mata. Novas
espécies animais foram encontradas. O comandante está muito satisfeito.
24 de setembro de 1934 – O guia pescou uma série de peixes que eu
nunca havia visto. São saborosos. O calor e os mosquitos estão minando as
minhas forças. Apesar de estarmos em plena selva, não há silêncio, os animais
noite e dia, fazem uma algazarra irritante.
25 de setembro de 1934 – O comandante está muito satisfeito com
nossos progressos.
26 de setembro de 1934 – O acampamento foi atacado por uma espécie
nova de macaco. Abatemos o animal, mas dois homens foram feridos.
27 de setembro de 1934 – O comandante está eufórico. Foi-nos dito
que fizemos uma grande descoberta científica. O guia parece preocupado.
27 de setembro de 1934 – Fomos atacados por um mostro. Dois homens
mortos. Sinto medo.
Notas de Nazário:
Fui contratado pelos alemão.
Os macho são demais mole com o mormaço.
Os alemão parece besta por causa dos bixo.
Os alemão guarda tudo que tranqueira que acham.
Seguimo por terra por que o rio tá por demais baixo.
Rumamo riba um igarapé até uma clareira e os alemão tão tudo feliz
co os bicho.
Pesquei umas dourada e os alemão ficaro tudo satisfeito quando
comero ela.
Os alemão mataro um mapinguari.
Falei com o patrão pra nós irmo embora que a panema arribou em
nós.
O mapinguari.
O mapinguari ou mapinguary é
uma entidade fantástica da região amazônica de caráter malévolo que vaga pela
mata. Ele urra floresta adentro imitando a voz humana e caso seja respondido por
algum caboclo desavisado, ele prontamente se põe a perseguir o mesmo com sanha
assassina e quando o captura, devora apenas a cabeça. O mapinguari mede, segundo o mito, entre dois
a três metros de altura, tem o corpo coberto por uma densa pelagem marrom, forte
odor, semelhante ao de um gambá, os olhos, ou olho, dependendo do relato, nariz
e boca, amalgamados ao tronco. Sua boca seria disposta na vertical. A criatura
segundo a tradição, não é capaz de nadar, evitando assim, os cursos d’água. Ela
seria invulnerável a disparos de armas de fogo e teria como único ponto
vulnerável o umbigo. Na prática o mapinguari seria indestrutível. A lenda
parece ter surgido durante a Era de Ouro da Borracha, já que em relatos
clássicos acerca do folclore indígena brasileiro, ela não é citada.
Apesar do caráter fantástico
do texto, certos fatos históricos parecem afiançar o relato, já que é sabido
que o Reich realmente tinha interesse na Amazônia e uma expedição “autorizada”
ocorreu entre os anos de 1935 e 1937. Otto
Schulz-Kampfhenker, geologista e piloto participante da expedição, legou para a
posteridade o seu diário intitulado “Mistérios do Inferno da Mata Virgem”, onde
relata os pormenores da mesma. Segundo o diário, a expedição recolheu um grande
número de amostras animais, vegetais e arqueológicas. Produziu material áudio
visual, testou um protótipo de flutuador aeronáutico que era inovador para a
época e mapeou rotas de invasão para a Guiana Francesa através do então
Território do Amapá. Um dado que chama a atenção é a grande carga de munições
transportada pela expedição, um total suficiente para cinco mil tiros. Durante
os anos de permanência na selva, os pesquisadores viveram entre uma tribo
indígena e um dos membros inclusive foi pai. A missão teve vários incidentes
trágicos, como mortes e acidentes que acabaram por decretar o seu fim. Em uma
ilhota do Rio Jari, entre os estados do Pará e Amapá, foi enterrado o soldado Joseph
Greiner que faleceu devido à malária. Como lápide, foi erigida uma enorme cruz
de madeira que ostenta a suástica. Prova indelével da presença do Terceiro
Reich.
Quanto à criatura citada no
texto, o mapinguari, em 1967 na localidade de Tefé, no Amazonas, o senhor José
Lima, teria supostamente enfrentado um casal de mapinguaris e para sobreviver escapado
em uma canoa.
Novamente nos disponibilizamos
a enviar uma cópia digitalizada dos arquivos em nossa posse, para que os caros
leitores tirem suas conclusões acerca da veracidade do relato.
C. C. de Carvalho - Jornalista