sábado, 15 de março de 2014

Posted by T. T. Albuquerque | File under : , , , , ,
Dando sequencia a esse projeto, apresento o segundo capítulo, onde alguns dos protagonistas se encontram e a história tem o seu inicio real.
Por favor, comentem.
Obrigado!

P.S.: Dedico essa publicação ao irmão Daniel Gama.
Obrigado por sua amizade.


Capítulo II – Escolha

A valkyria fecha suas asas ao tocar o solo. As penas, todas forjadas do ferro mais negro, reluzem com a luz da Lua, dando um ar sinistro a diminuta figura.
Uma mulher, no auge da juventude, de pele muito branca de cabelos negros e curtos. Negros como o coração do próprio Loki.
Sua face, de lábios finos, nariz delicado e olhos profundos, olhos de um tom cinza, como o céu antes de uma forte tempestade, é a representação da beleza idealizada.
A armadura que enverga composta por placas, que se ajusta ao seu corpo de formas perfeitas, semelhante a uma segunda pele, se sobrepõe a uma fina cota de malha, semelhante seda, que toca suas botas. Botas forjadas da mesma maneira que a armadura.
Ela carrega nas mãos, uma lança delgada, semelhante a uma agulha gigante.
Calmamente ela caminha entre os corpos dos caídos.
Apesar do fedor e dos insetos, ela sorri por saber que poderá escolher quantos desejar. Escolher os melhores.
Os olhos dos mortos seguem seus passos, como se suplicando: - Me escolha...
Mas ela é caprichosa, e só começa sua tarefa, após percorrer todo o campo.
Com um movimento gracioso, ela dispara sua lança aos céus, que voa até perder-se da visão. Segundos se passam até que velozmente crava-se no peito de um dos caídos vinda das distancias celestes.
Ela se aproxima e agarra a lança, dizendo de forma fria.
- Vejamos se vales algo. Fale!
Após segundos, o brilho nos olhos do morto retorna, um forte suspiro se faz e finalmente a voz se liberta.
- Maldita! Tira isso do meu peito!
Com um sorriso cruel, ela responde.
- Que gentil! Vejo que é um nobre.
Mas tudo que ela recebe como resposta é um novo praguejar.
- Larga-me maldita!
Girando a lança na ferida, a dama guerreira, sorri novamente, só que de maneira mais cruel, se deleitando com a dor que causa ao caído.
- Bem meu caro nobre sabe quem sou? Sabe o que faço aqui?
Cheio de dor, o morto deixa escapar por entre os dentes.
- Tu és uma puta maldita que me está fodendo!
Com ódio, a jovem crava a lança no peito mais profundamente, fazendo com que ela o vare.
- Vejo que mereceste tombar! É um estúpido! Sou aquela que escolhe os caídos, sou Hildr, uma valkyria. E você meu caro, é o homem mais burro e ignorante do mundo. Mas parece que servirá. Mesmo após tua queda, ainda demonstra bravura.
Surpreso, o guerreiro tenta retirar a lança, mas de nada adianta.
- Morto? Só estava ferido, você é que vai me matar. Sua puta!
- Ferido? Caso não tenhas notado, estou pisando em suas tripas. E suas pernas estão partidas, com os ossos a mostra, aliás.
O homem olha para seu ventre, atestando a afirmação de Hilrd. Subitamente toda sua memória retorna e ele vê.
Vê, quando suas pernas são partidas por um martelo de guerra. Quando tomba de peito na lama criada pelas tripas e sangue de inúmeros jovens cegos pela tentação da fama e do ouro. Cegos pelas mentiras de seus lideres.
Relembra como foi covardemente erguido, por homens sem honra, para servir de sacrifício. Como a “velha sábia” retalhou seu ventre de forma cruel e sádica, sorrindo o tempo todo. E por fim, toda a lenta agonia, toda a vergonha, todo o ódio que sentiu antes de mergulhar na escuridão. E de uma vida simples, sobraram apenas o ódio, a tristeza e a amargura que sua morte brutal e sem sentido lhe trouxe.
- Puta merda! Eu morri!
Uma franca gargalhada foge dos lábios de Hilrd, uma gargalhada pura, como a de uma criança feliz.
- Adoro essa parte.
De forma rápida a expressão feliz no rosto da valkyria se desfaz, dando lugar a um semblante soturno e cruel.
- Agora basta de brincadeiras. Ergue-te!
Com um movimento veloz e brutal, a lança é puxada do cadáver, fazendo com que um forte jorro de sangue podre se faça. Lentamente de onde a lança deixara um profundo buraco, a sombra de uma mão se apresenta, rasgando o corpo. Logo, outra mão aparece, rasgando ainda mais as carnes mortas, fazendo com que sangue coagulado e pedaços de carne pútrida voem. Com a força das duas mãos, a ferida cresce mais e mais, até que a forma de uma cabeça surge. Um forte urro cheio de ódio e dor se faz na boca sinistra que se projeta com afinco e dificuldade da larga ferida. Qualquer homem fugiria chorando ao ouvir tal brado, mas Hilrd apenas deixa um leve sorriso escapar.
Após alguns minutos, a sombra de um homem se faz presente sobre o que antes era o peito do guerreiro. Peito que agora não passa de uma grotesca massa de carne retalhada.
Os olhos da sombra brilham com uma luz sinistra, luz idêntica a dos espíritos que ardem nos campos durante noites muito frias.
Hilrd com a ponta de sua lança fixa nesses mesmos olhos pergunta de forma fria.
- Qual teu nome guerreiro?
Uma forte e rouca voz, que parece vir de profundezas maiores do que o próprio reino de Hella responde.
-Bor!
Um brilho se faz na ponta da lança, cegando a sombra, que protege seus olhos sinistros. Hilrd então grita:
- Toma tua forma e vem. Pois há muitos ainda a escolher.
Quando a luz se desfaz, um jovem, de olhos castanhos, selvagens como os de um lobo, de grande altura, ombros largos, longos cabelos negros e pele muito branca se apresenta. Ele se veste com uma grande pele de urso e partes de armaduras das mais variadas origens e eras. Em suas mãos ele carrega um enorme machado, desproporcional mesmo para sua grande figura, feito de uma enorme lasca de rocha. Rocha negra, semelhante a um pedaço de vidro, reforçada com peças de aço e de cabo feito de osso. Osso de alguma enorme fera. Fera que a raça dos homens nunca viu viva.
Fitando Bor nos fundo dos olhos, Hilrd ordena.
-Agora fique quieto e espere pela minha nova escolha.

A valkyria se afasta. E novamente a lança voa pelo céu noturno.

Um comentário:

  1. Obrigado, irmão!
    Continue sempre com essa dedicação! Seus textos são ótimos, você sabe disso!

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