sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Posted by T. T. Albuquerque | File under : , , ,
Esse é o segundo capítulo desse projeto e foi o mais bem recebido pelo público em alguns sites pela net. A história se passa no Amapá, lugar em que vivi. A lenda me foi contada por uma senhora quando eu estava viajando pelo interior do estado. Espero que gostem e como sempre peço... Critiquem! Obrigado!




Os porcos de Mazagão.

Santarém, Pará, 07 de março de 2007.

Após a publicação da notícia da morte do senhor José da Silva Chucre, vários e-mails chegaram à redação de nossa gazeta requerendo cópias do texto original encontrado junto ao corpo, assim como, outros de caráter ofensivo e reprovador, algo que este jornalista já esperava, mas o que mais nos causou espanto foi uma mensagem enviada pelo senhor Carlos Prado Góes, 58 anos, morador de Macapá no estado do Amapá. O senhor Góes nos enviou documentos da década de sessenta que seu pai, o senhor Janari Góes tinha entre seus pertences. O pai do senhor Góes foi durante vinte e dois anos, chefe de segurança da empresa mineradora Icomi e por toda a vida manteve esses documentos guardados. Segundo esses mesmos documentos, um caso semelhante ao descrito no texto do falecido senhor Chucre, ocorreu no interior do Amapá na localidade de Mazagão Velho. Onde um jornalista foi supostamente morto por criaturas do folclore local, o senhor Paulo Vasconcelos, desaparecido no ano de 1967 em viagem de trabalho.
Novamente, reproduzimos o texto, mas dessa feita, no original, para apreciação de nossos leitores, assim como, foto tirada pela vítima, das supostas criaturas:

Eles estão lá fora cercando a casa. Arranhando as paredes, farejando, procurando uma maneira de entrar e dar cabo de mim.
É uma questão de tempo até que eu enfrente o meu destino.
Para que a verdade, por mais inverossímil que possa parecer, não fique oculta, usarei meus momentos finais em frente à máquina de escrever que encontrei na casa, narrando todo o ocorrido.
Meu nome é Paulo Vasconcelos, sou por ofício, jornalista investigativo.
Há seis meses, fui contratado por uma empresa mineradora do norte do país, para investigar o desaparecimento de uma equipe de técnicos no interior do território do Amapá.
Saindo de São Paulo por avião, cheguei à capital do Pará e lá tomei um navio que se dirigia para o território federal.
Quatro dias após meu embarque, cheguei ao porto de Santana, onde fui recebido pelo senhor Janari Góes, chefe de segurança da empresa que havia me contratado. O senhor Góes me entregou então, um dossiê produzido pela polícia militar acerca dos dados preliminares coletados nas cercanias da área do desaparecimento, uma vila no interior, chamada Mazagão Velho.
A documentação era farta, mas, no entanto, vaga e pouco confiável. Consistia em sua maioria de testemunhos e fotos de cidadãos da localidade, que tinham em comum o fato de que os desaparecimentos eram atribuídos a criaturas do folclore local, na época tomei tudo por crendices dos caboclos do lugar.
Após uma longa e penosa viagem por estradas de terra, quase intrafegáveis graças às pesadas chuvas equatoriais da região, acabei por chegar à vila de Mazagão Velho. Um lugar perdido no tempo, com cerca de 230 famílias, que tinha como a principal ocupação produtiva a agricultura. Não havia hotéis, então fui hospedado na casa de um antigo funcionário da mineradora, caboclo idoso que foi aposentado devido a um acidente de trabalho. Seu nome era Manoel da Silva Borges, homem simples e muito religioso, que me acolheu como a um filho em sua casa.
Por semanas minhas investigações não geraram quaisquer informações que divergissem das previamente recolhidas no dossiê. Na verdade, a população local se mostrou arredia, me evitando ao máximo. Segundo meu hospedeiro, a comunidade seria mais solicita com o passar do tempo, assim que eu me provasse como disse o velho, um bom cristão. E então por semanas, passei a frequentar a paróquia local e a não fumar e beber em público.
Meus atos geraram frutos e o povo da localidade passou a ser mais receptivo ante as minhas averiguações e uma nova pista acabou por surgir. Segundo alguns caçadores, provavelmente a equipe acabou por encontrar um garimpo clandestino durante suas pesquisas na mata e foi executada para que não denunciassem sua localização para as autoridades militares. Seguindo essa nova linha de investigação, juntamente com um guia local, passei algumas semanas vasculhando as matas da região. Mas meus esforços foram infrutíferos.
Certa noite, ao voltar de mais um dia de investigações mal sucedidas, encontrei Manoel completamente bêbado, ele estava sério e soturno, falando sozinho. Ao ver-me chegar, ofereceu um copo de bebida, uma emulsão de cachaça, canela e gengibre, demasiado forte e aromática, e começou a narrar como sua esposa e filho haviam sidos levados pelas supostas criaturas que os cidadãos da vila tanto mencionavam em suas narrativas. Na oportunidade, senti pena do pobre velho solitário e não lhe dei crédito algum.
Decorridos cinco meses sem conseguir nenhuma nova informação quanto ao paradeiro da equipe desaparecida, contatei a mineradora e dei por encerrada a investigação.
Antes de voltar para São Paulo, decidi que seria interessante escrever um artigo sobre o folclore local, para tanto, procurei averiguar a origem do mito. Preliminarmente não obtive sucesso, pois os caboclos não possuíam essa informação, mas não tardou até que eu descobrisse que o padre da paróquia local era um entusiasta da história e folclore da região. O padre Moretti foi muito solícito e emprestou-me suas notas pessoais sobre o tema para meu uso. Munido dessas novas informações, pude saber que a origem do mito remontava a uma tribo que habitou a região no passado e que o mesmo fora absorvido pelos caboclos, recebendo tons de violência extrema e ainda, da localização de um sitio arqueológico onde as criaturas foram supostamente por vezes avistadas. O padre também me permitiu fotografar alguns desenhos feitos por cidadãos da vila que supostamente haviam encontrado os seres descritos no mito. Os desenhos tinham um aspecto perturbador em comum, todos representavam seres hominídeos com feições de porcos, algo semelhante com iluminuras medievais de demônios da mítica católica.
Procurando me munir de algumas fotos do local dos supostos avistamentos, procurei o auxílio de guias locais, no entanto nenhum deles aceitou a incumbência, não importando o quanto lhes fosse oferecido, dado isso, entrei na mata acompanhado apenas de uma câmera fotográfica e um revólver.
Vaguei pela mata em trilhas incertas e cansativas durante horas, mas por fim, encontrei o lugar. Em uma clareira, várias lajes de rocha negra estavam dispostas em círculos e a julgar pelo seu aspecto, deviam ter milhares de anos. Por meia hora, tirei fotos do lugar até ouvir sons na mata, parecia algo semelhante a passos humanos e guinchos de algum tipo de animal, o que me causou um profundo desconforto. Instintivamente saquei de minha arma e comecei a caminhada de volta a vila, ouvindo durante todo o trajeto os sons a minha volta. Somente no começo da noite alcancei meu destino e só então me senti seguro. Quando cheguei à casa de Manoel, contei o ocorrido ao caboclo e ele me pareceu preocupado.
Pela manhã, ao acordar, não encontrei o meu hospedeiro em casa, estranhei esse fato, mas ainda assim comecei a me preparar para partir. Apenas pelo fim da tarde que o velho voltou, ele estava acompanhado de um rapaz chamado Sabino. Ambos me informaram que objetos da equipe de pesquisas haviam sido encontrados em uma casa localizada em certa ilhota e caso eu ainda tivesse interesse, poderia ser levado pelo jovem até lá. Prontamente eu aceitei a proposta e levando minha arma e câmera, parti para o lugar. Deixei com Manoel o rolo de filme que havia usado no dia anterior, para que fosse enviado pelo correio até a capital a fim de ser revelado. Ao se despedir de mim, o velho pareceu triste e envergonhado, não me olhando nos olhos em qualquer momento que fosse.
O garoto e eu embarcamos em uma pequena canoa e juntos remamos até uma ilha em um braço distante de rio. Chegando lá, Sabino me guiou pelo lugar, onde finalmente avistei a casa na qual foram encontrados os objetos. Era toda feita de madeira, parecia ter sido recentemente construída e ser muito sólida, estranhamente não havia janela alguma, apenas a porta de entrada. Ao entrar, encontrei uma série de documentos e equipamentos diversos pertencentes aos desaparecidos. Permaneci no lugar lendo os documentos a procura de pistas até o cair da noite. Já com a lua alta no céu, o garoto disse que iria até a canoa buscar um par de redes que usaríamos para pernoitar no local, já que navegar na escuridão seria perigoso e então partiu, deixando-me só. O rapaz demorou a voltar e preocupado com sua segurança, dirigi-me até o lugar onde a canoa havia sido atracada e para meu assombro, não encontrei a ambos. Novamente um estranho desconforto se insinuou e correndo, voltei para a casa e a tranquei completamente.
Por volta da meia noite, ouvi mais uma vez os sons que ouvira próximo as placas de rocha, só que dessa vez, pareciam ser criados por um grande bando de animais ou pessoas. De arma e lampião em punho, esse encontrado entre os objetos contidos na casa, sai para verificar o que estava produzindo os sons. Durante minutos, nada surgiu e mesmo os sons se silenciaram, até que o horror se mostrou. Lentamente uma figura baixa saiu da mata que cercava a casa. Um ser disforme, coberto de pelos grossos e imundos, grotescamente obeso e com feições de suíno se pôs ante mim. Dominado pelo medo, esvaziei o tambor do revólver contra a criatura. Ela guinchou e pesadamente caiu no chão, morta. Por segundos o silêncio dominou o lugar, até que novos guinchos irromperam da mata e uma dezena de outras criaturas começou a surgir da floresta escura correndo em minha direção. Imediatamente tranquei-me na casa, colocando uma pesada tranca de madeira contra a porta, o que por hora, tem as mantido do lado de fora.
Ainda tenho doze munições comigo, mas sei que não serão suficientes para me salvar.
Imagino ter sido colocado aqui como uma espécie de sacrifício para as criaturas pelo povo local, por ter chegado perto demais da horrenda ver...

Foto: O homem-porco espreitando.
Na foto, uma formação paleolítica de dolmens de rocha negra, cobertas de grafismos rupestres e musgos no meio de uma densa floresta equatorial. No canto esquerdo da mesma, pode se ver entre a vegetação, uma criatura diminuta, de aspecto maldoso, semelhante a um porco com corpo humano, a espreitar.

Segundo os dados encontrados em documentos que atestam a contratação do senhor Vasconcelos pela citada empresa mineradora, os eventos descritos no texto teriam presumivelmente ocorrido entre janeiro e julho de 1967.
Poucas informações foram conseguidas acerca do mito citado no texto, todas elas diferem entre maldições, licantropia e uma raça de criaturas monstruosas. Tendo em conta tal fato, pedimos aos nossos caros leitores, que por ventura possuam dados aprofundados sobre o mesmo, que nos os enviem para que possamos os publicar aqui.
Quanto aos dolmens descritos na narrativa, eles realmente podem ser encontrados no norte do estado do Amapá, no Sítio José Antônio, que se situa próximo ao curso do rio Cunani. Nesse sítio ainda se encontram um conjunto de 150 blocos dispostos em linha dupla que acompanha o traçado do rio Calçoene. Segundo o arqueólogo Curt Nimuendaju, essa formação teria uma função religiosa.

Novamente nos colocamos à disposição dos leitores, para assim que requerido, enviarmos de pronto, os arquivos digitalizados dos documentos originais em nossa posse, para a apreciação quanto sua veracidade.
C. C. de Carvalho. – Repórter

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