quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Esse projeto já foi reescrito diversas vezes, já tem quase cinco anos e eu ainda não consegui chegar nem a metade do que quero.
É um romance de horror baseado na mítica judaico/cristã, suméria e nos Mythos de Lovecraf. Como uma tentativa de diferencial, o personagem principal é um homem obeso, sim em parte ele fala de mim, que com o desenrolar da trama acaba se transformando em um ser sobrenatural.
Espero que gostem e por favor, critiquem. Obrigado!

CAPÍTULO I – UMA LIGAÇÃO

Mais uma vez, acordo sufocado. Os pesadelos são cada vez mais vívidos, detalhados e aterrorizantes. São cada vez mais constantes.
Neles, revejo a morte de minha mãe, minha irmã correndo para a floresta, enquanto meu pai em uma crise de loucura a persegue. Mas o que mais me causa medo é a imagem de meu avô, alheio a tudo, apenas rindo de forma perversa.
Arrasto-me até a cozinha em busca de um pouco de água, mas acabo por atacar a geladeira, ao abrir a porta, sou recebido por Arthur, o porquinho de brinquedo que ganhei nas reuniões dos Vigilantes do Peso, que sempre fica a roncar em forma de protesto quanto a minha glutonia. Quando a fecho, sorrindo, ronco em resposta.
Ligo a televisão, enquanto sento-me à mesa da sala e começo a devorar a pizza fria que restou de ontem. Fico novamente planejando começar uma dieta na próxima semana.
Na tela, as mesmas notícias de sempre, guerras, crimes, política, esportes, receitas de bolo, todo o lixo vazio que nos acostumamos a engolir.
O despertador toca no quarto, avisando que devo me preparar para começar mais um dia de trabalho. Um trabalho tão vazio quanto às notícias.
Tomo banho, me visto e saio.
As ruas já estão repletas de pessoas que como eu, se dirigem a mais um dia de trabalho não gratificante. É difícil caminhar entre elas sem ser empurrado e xingado, meus passos são lentos e pesados, todos os quilos extras cobram seu preço. A estação de metrô parece estar a quilômetros.
A estação está lotada, mais um dia de atraso nos horários. Todos me olham com cara de poucos amigos, alguns comentam em meia voz, como sou gordo e ocuparei muito espaço no vagão.
Mais um maravilhoso dia de merda.
Com meia hora de atraso, a composição chega à estação, já lotada. As pessoas se empurram, espremem, gritam e reclamam. A cena toda parece um trecho tirado de algum documentário sobre estouro de boiadas da Discovery.
Quando ponho o pé no vagão, sou empurrado para fora, um homem vestindo um macacão de trabalho grita.
-Pega o próximo Wyllie!
As pessoas riem enquanto as portas se fecham e a composição parte.
Mais um atraso no trabalho, o quarto esse mês.
Após mais quarenta minutos, outra composição chega, dessa vez não tão abarrotada, mas nem por isso confortável. Recebo cotoveladas e empurrões, enquanto as pessoas reclamam de meu tamanho e fazem piada.
Com mais de uma hora e meia de atraso, coloco os pés no escritório. Mais uma vez sou chamado até a sala da supervisão, onde recebo uma nova advertência.
Mais um dia de hora extra não remunerada.
Mais um dia nojento.
As horas parecem não passar enquanto analiso quase que intermináveis linhas de comando de tediosos algoritmos bancários.
Ao meio dia, ligo para a lanchonete e peço que entreguem dois sanduíches de queijo e uma Coca Diet. Novamente um almoço de merda trancado no escritório para compensar o horário perdido.
Assim que desligo o celular e o coloco sobre a mesa, ele começa a tocar. Sinto estranheza, ninguém me liga, exceto os cobradores. Ao atender, uma voz grave, rouca e decididamente idosa me indaga.
-Senhor Lockearth?
Respondo afirmativamente com a cabeça, como se o homem no outro lado da linha pudesse ver.
Por fim, afirmo positivamente e pergunto quem está me ligando.
Um suspiro de satisfação se faz ouvir.
-Meu nome é Alexander Bellias, sou advogado e represento o senhor Iblis Lockearth, seu avô.
Um calafrio percorre meu corpo, um medo infantil me domina e perco a voz.
-Senhor Lockearth, ainda está aí?
O medo me paralisa, a imagem de meu avô rindo retorna a minha mente, fazendo com que eu fique como um animal acuado por alguns minutos. Flashes do passado passam por minha mente de forma desconexa aumentando o meu horror a cada instante.
-Senhor?
A voz grave e idosa me puxa de volta do abismo de medo em que minha mente me jogou. Balbuciando, novamente pergunto o que o homem deseja.
Alguns segundos de silencio no outro lado da linha.
-Como acabo de lhe informar, sou advogado e represento seu avô. A pedido dele tenho a incumbência de lhe entregar certos documentos de caráter pessoal.
Novamente fico atônito, em quase quinze anos, não tive qualquer notícia de meu avô e agora isso? Do nada ele aparece?
O medo começa a mais uma vez me dominar, mas ainda consigo perguntar acerca do teor da documentação.
-Segundo seu avô, se tratam de documentos de um caráter demasiadamente pessoal senhor Lockearth. Não tenho como lhe informar mais nada, além disso. Todos se encontram em um envelope lacrado. Há a possibilidade de que venhas até meu escritório? Se possível ainda hoje?
O medo me domina, perco o ar e começo a passar mal. Minha respiração fica pesada e tudo parece girar.
Apesar de ter a certeza que não devo ter contato com os tais documentos ou qualquer coisa relacionada a meu avô, respondo cheio de hesitação e medo, um medo pueril, quase animal.

-Sim... Eu posso.

0 comentários:

Postar um comentário